terça-feira, 15 de julho de 2008

Sobre o Conflito

Se o teatro cria um mundo vivo e completo centrado nos seres humanos, então o conflito deve fazer parte do drama, porque a vida inclui conflito. O dicionário define conflito como:

Uma batalha prolongada; uma luta; choque.
Uma controvérsia; discordância; oposição.
Oposição ou funcionamento simultâneo de impulsos, desejos ou tendências exclusivas.
Choque; colisão.

O conflito é a oposição em formas e magnitudes variadas. O conflito não é uma acção ou força isoladas. O conflito acontece quando duas ou mais acções se inter-relacionam. No nosso esforço para entender a paz, muitas vezes nós assumimos que a paz é alcançada quando o conflito se dissipa.

As pessoas às vezes pensam na paz em termos de estática. Uma pessoa está em paz quando ele ou ela experimenta quietude na vida, quando as coisas não mudam ou não requerem mudança. Mas paz não é necessariamente estática. Para muitos, a paz se conecta a palavra equilíbrio e equilíbrio conecta-se à palavra acção. O objectivo de duas forças inter-relacionadas é procurar algum tipo de equilíbrio. Nos relacionamentos humanos, atingir o equilíbrio é atingir a justiça. A chave para atingir o equilíbrio é a reconciliação, pois as forças conflituantes, necessariamente, têm que encontrar um caminho para existirem juntas sem dissipação. Os antigos filósofos gregos viam o equilíbrio ou harmonia como uma oscilação de opostos alternados. A paz pode então ser vista como um processo de reconciliação entre forças conflituantes activas as quais resultam em justiça activa ou equilíbrio.

A estática não é um objectivo realista na vida, porque a vida é um processo no tempo. Uma piscina que parece estagnada é um processo de evaporação e formas de vida florescem dentro dela. As células do nosso corpo continuam a morrer e a regenerar, o nosso coração continua a contrair e a relaxar, o sol atinge vários estádios, as marés enchem e esvaziam. Ao nível Ao nível emocional, temos tristezas e alegrias, dor e prazer, necessidades e preenchimento das necessidades.

Deve haver oposição em todas as coisas. Oposição de todo tipo significa conflito. Até mesmo fazer uma escolha envolve conflito. Ao nível físico, não podemos sobreviver sem enfrentar o conflito. Temos que comer e dormir. A um nível mais abstracto, não podemos viver em sociedade sem lidar com o conflito. A nossa tarefa na vida é como lidar com o conflito.

O ideal humano em lidar com o conflito é criar a paz. Em vários lugares as escrituras tentam ajudar -nos, a saber, como lidar com o conflito e criar a paz em nós mesmos e na nossa vida diária. Mas o conflito não vai embora; ele não pode ir. A paz, então, deve ser vista como um processo de obter equilíbrio na vida. Quando o conflito cria a injustiça, ser um pacificador significa envolver-se activamente de forma a corrigir o equilíbrio daquela injustiça.

Entretanto, para ser um pacificador, corrigir o equilíbrio da injustiça é muito importante. Algumas pessoas acreditam que para corrigir o equilíbrio precisamos eliminar o inimigo. Isto é, para lidar com o conflito, precisamos de encontrá-lo com a mesma magnitude de conflito. É importante entender que para existir a paz, equilíbrio significa afirmação e reconciliação.

O conflito deve existir para que nós possamos viver. Mas para viver em paz, o conflito deve de alguma maneira, ser transformado em uma afirmação de personalidade. O conflito deve ser transformado. A paz deve ser um processo contínuo de reconciliação. A paz é activa.

CONFLITO NO DRAMA

Porque o conflito é um processo vital , ele deve ser uma parte do teatro. De outra forma, o teatro não seria capaz de criar uma experiência da existência humana. Explorando o relacionamento entre nós mesmos e Deus, entre nós mesmos e outras pessoas, entre nós mesmos e a natureza, entre nós mesmos e a sociedade e entre nós mesmos e nós mesmos deve ser uma descoberta de como lidamos com o conflito.

O drama ajuda-nos a examinar na nossa própria vida/conflito. E a maior parte dos dramas procura um equilíbrio. O drama retrata o conflito e, então de alguma maneira, resolve este conflito. Também, o drama constantemente procura a justiça. Eu não posso pensar em nenhum drama que termine com o antagonista destruindo, o protagonista e o público gostando desta situação.

Mas o drama é também muito humano e muito pessoal. Através da experiência da produção, existe uma identificação com os personagens e as situações. No Teatro, Robert Cohen escreve acerca do conflito no drama:

A conspiração envolve suspense somente quando envolve alternativas e escolhas: Macbeth tem fortes razões para matar o rei Duncan e fortes razões para não matar; se ele tivesse somente a primeira ou a segunda opção, ele não iria projectar um conflito real e nós não o consideraríamos um personagem interessante. Nós estamos fascinados por acções do personagem à luz de acções que ele rejeita e o momento que ele tem de passar para tomar suas decisões. Por outras palavras, a trama compõe-se, não somente de acções, mas também pela falta delas. As coisas que são rejeitadas não acontecem. A decisão de uma personagem deve ser feita ao nível de poderosas alternativas conflituantes se nós olharmos o seu comportamento com empatia, ao invés da mera curiosidade. Ao olhar a acção de uma personagem, a audiência deve também olhá-la pensando; um escritor deve colocá-la para pensar ao inseri-la no conflito.

O conflito pode ser gerado entre os personagens como também dentro delas; ele pode ser reduzido a uma situação central ou pode envolver muitas outras. Qualquer que seja o caso, o conflito concede às personagens um alívio que permite ao público ver profundamente dentro da realidade humana. Para ver uma personagem em "guerra consigo" ou em confronto com outra personagem, é ver como aquele personagem trabalha, e esta é a chave.

O drama contém o conflito dos personagens, situações e/ou forças. O drama é estruturado para intensificar o conflito até que ele alcance um clímax quando o conflito necessariamente tem que ser resolvido de alguma maneira.

1 comentário:

Anónimo disse...

Super interessantes as abordagens metafísicas que teceste.

Abraço,
Paulo