sábado, 8 de agosto de 2009

Teatro sempre em renovação


Há em Portugal um teatro,que dá vontade de ver e que prima pela abundância de grupos e de estratégias. Apesar disso, o sector continua a lutar com a falta de apoios e com a inexistência de um estatuto profissional.

"Quem actualmente faz teatro em Portugal aposta forte na profissionalização. E mesmo os actores oriundos de outras áreas não dispensam a frequência de worshops para se sentirem legitimados perante os seus pares", afirma a investigadora Vera Borges.

A docente do Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa tem, nos últimos três anos, dedicado grande parte do seu trabalho ao estudo sociológico da actividade teatral em Portugal. O resultado desse trabalho está plasmado em dois livros , "O mundo do teatro em Portugal" (2007) e "Teatro, prazer e riso. Retratos sociológicos de actores e encenadores portugueses" (2008).

A falta de meios, de condições de trabalho e de estatuto profissional são os maiores problemas sentidos por actores e encenadores. "Ainda assim, o número de artistas não pára de aumentar. A componente de realização pessoal e de vocação é muito forte neste sector", verifica Vera Borges.

Para a investigadora, uma das facetas mais marcantes de quem faz teatro é a da forte aposta na profissionalização, "seja através da passagem pela escola, seja pela frequência de workshops, quer no país, quer no estrangeiro".

Embora as carreiras sejam incertas, sobretudo no caso dos grupos e dos artistas mais jovens, existem, mesmo assim, inúmeros projectos no terreno. "Muitos deles são originados por determinado tipo de acontecimento, uma participação numa série ou numa novela televisiva, por exemplo".

Os percursos de quem faz teatro em Portugal são distintos: "Uns entram no meio graças à popularidade que granjearam na televisão, outros afirmam-se directamente nos palcos teatrais vindos das escolas superiores de teatro. Mas o que se verifica é que o movimento entre estas duas plataformas é muito maior do que há uns anos ".

Para Vera Borges, os universos entre o teatro e a televisão já não se opõem tanto. "Agora, esses meios precisam um do outro para também conseguirem criar alguma reputação. Um rosto conhecido da televisão é sabido que pode atrair mais público. E as companhias não descuram isso". Há os exemplos da Cornucópia, do Teatro Aberto, da Comuna, do Teatro Nacional de São João e do Teatro Nacional D. Maria II, para só citar alguns que, não raro, integraram no elenco das suas produções actores que se iniciaram na televisão.

Em qualquer dos casos, sublinha Vera Borges, "o teatro é uma profissão aberta, onde entrar é relativamente fácil. Ficar é que é um problema. Muitos grupos ultrapassaram as dificuldades criando estruturas ou serviços que ajudam ao seu financiamento". Por exemplo, há grupos com escolas (o Teatro do Bolhão, no Porto, é um deles), outros que se especializaram em espectáculos para as escolas e existem companhias, como a também portuense As Boas Raparigas, que dão formação específica. Por isso, conclui a investigadora, "raramente houve tantas propostas interessantes na área do teatro."

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